INFLUÊNCIA DOS HORMÔNIOS NA CELULITE: COM ÊNFASE NA ADIPONECTINA

Conteúdo extraído do livro “Vitória Contra a Celulite” do Dr Roberto Chacur, Ed. AGE, 2023.

Dra. Gabriela Camargo
Dr. Roberto Chacur

INTRODUÇÃO
A celulite – conhecida também como lipodistrofia ginoide e fibro-edema
geloide – é considerada um distúrbio estrutural, inflamatório e bioquímico do tecido subcutâneo, que leva a alterações significativas na aparência da pele. Isso se dá mediante a inflamação crônica vascular e de baixo grau de perturbação da circulação microvascular e linfática do tecido adiposo subcutâneo (ATAMOROS et al., 2018).
Quanto à etiologia, há um fator genético-constitucional influenciado
por alterações hormonais, hábitos alimentares e sedentários (RIVITTI, 2018). Já em relação à patogênese da celulite, fatores inflamatórios têm sido associados e a inflamação crônica pode desempenhar importante papel no desenvolvimento de septos fibrosos. Na mulher, o septo fibroso é fino, com projeção perpendicular; já no homem, esse septo é mais grosso, com projeção oblíqua. Aparentemente, essas características histológicas  favorecem o sentido de expansão do tecido gorduroso quando aumentado, sendo, na mulher, em direção à superfície e no homem, em direção à profundidade. Na mulher, o tecido se apresenta mais espesso; o tecido conectivo é mais frouxo, produzindo maiores saliências; e as células de gordura são maiores. A predominância da celulite no público feminino pode ser explicada pela diferença da organização do tecido adiposo entre os sexos (DAVID et al., 2011; BORGES; SCORZA, 2016; FRIEDMANN; VICK; MISHRA, 2017).
Podem desempenhar também importante papel na patogênese da
celulite as significativas diminuições na expressão subcutânea da adiponectina (APN) – hormônio derivado de adipócitos com funções anti-inflamatória, antifibrótica e vasodilatadora. A adiponectina é uma glicoproteína expressa quase que exclusivamente no tecido adiposo (FRIEDMANN; VICK; MISHRA, 2017).

Com a colaboração de colegas médicos experientes, o Dr. Roberto Chacur reúne neste livro uma abordagem em torno do tema que vai desde a gênese da celulite, o método próprio de avaliar e classificar, as doenças associadas e a modulação hormonal até os tratamentos existentes, o que realmente funciona e por qual motivo o método GOLDINCISION é considerado o padrão ouro.

CELULITE

A lipodistrofia ginoide ou ginecoide, cujo termo tem origem no grego
gynec-oid
, conhecida também como fibroedema geloide e celulite, é um
distúrbio do tecido adiposo mais comum em mulheres, principalmente

após a adolescência. Ela é caracterizada por ser um processo não infla

matório, que leva à ocorrência de retração irregular da superfície cutâ

nea; acúmulo de gordura (tecido adiposo); ondulações na pele (aspecto

de casca de laranja); fibras de colágeno danificadas (comprometimento

da matriz dérmica); comprometimento da microcirculação (retenção de

líquidos); e nodosidade, podendo ser até dolorosas à palpação (Figura

10.1) (RIVITTI, 2018).

Há muitas teorias sobre a fisiopatologia da celulite, pelo fato de esta

ser complexa, necessitando de muitas pesquisas para elucidá-la. Esse

distúrbio provavelmente é multifatorial e tem como causas uma falha da

microcirculação; alterações anatômicas; redução na produção do hor

mônio adiponectina pela célula subcutânea da pele; alterações no tecido

conjuntivo dérmico; polimorfismo genético; e processos inflamatórios

(SCHONVVETTER
et al., 2014; TOKARSKA et al., 2018).
Múltiplos fatores também estão envolvidos na etiologia da celulite,

incluindo os de origem étnica, de gênero, genética, biotipo corporal, dis
tribuição
do tecido adiposo e receptores envolvidos, sendo considerado

como principal desencadeante o hiperestrogenismo (MACHADO
et al.,
2009).

Pele saudável e pele com celulite

Pele saudável e pele com celulite com aumento do volume dos adipócitos e incremento dos arranjos de fibra de colágeno. Fonte: acervo do autor


O tecido adiposo libera uma adipocina benéfica, com ação anti-infla

matória – adiponectina –, com capacidade de sintetizar e secretar a lep

tina, responsável pela sensação de saciedade do nosso organismo (KOK

KINOFTA
et al., 2012).
A adiponectina leva também à melhora da sensibilidade à insulina,

suprimindo o efeito do fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleu

cina 6 (IL-6) e interferon γ (INF- γ), atuando na proteção de doenças me

tabólicas e cardiovasculares, que podem levar à ocorrência de celulite

(COIMBRA
et al., 2014).

Na maioria dos casos, a avaliação da celulite é realizada com exame
físico, com o paciente em pé e os músculos relaxados, para que as lesões

deprimidas e elevadas sejam identificadas mais facilmente, independen

temente do teste de pinça ou contração muscular (HEXSEL
et al., 2015).
A celulite pode ser classificada em graus de 0 a III, com base em cri

térios clínicos – indo desde a completa ausência de celulite até seu grau

mais grave (Quadro 10.1).

A classificação do Quadro 10.1, apesar de prática, não abrange todos

os aspectos morfológicos importantes da celulite. Nesse sentido, Hexsel

et al.
(2009) e Hexsel et al. (2010) publicaram a Cellulite Severity Scale
(escala de gravidade da celulite), conforme o Quadro 10.2, com base em

cinco aspectos clínicos e morfológicos importantes da celulite: A) núme

ro de lesões deprimidas em evidência; B) profundidade das depressões;

C) aspecto morfológico das alterações da superfície da pele; D) grau de

flacidez ou flacidez da pele; E) grau de celulite. Cada um desses itens

é classificado de zero a três; a soma total das pontuações deles indica

o grau de celulite em leve, moderada ou grave, conforme nos mostra a

Quadro 10.2.

Alguns estudos têm utilizado a escala de gravidade da celulite na

avaliação da melhora do quadro. Isso ocorre porque essa escala é consi

derada objetiva e confiável na avaliação de resultados de ensaios clíni

cos (HEXSEL
et al., 2011; HEXSEL et al., 2013; HEXSEL et al., 2015).
Independentemente do grau da celulite, a população feminina é ex

tremamente afetada, com incidência maior entre as faixas etárias de 15
e 45 anos –
fase reprodutiva. Essa condição atinge em média 95% das

mulheres pós-púberes, de todas as raças, com maior prevalência nas

caucasianas (AFONSO
et al., 2010; CUNHA; CUNHA; MACHADO, 2015).
Comumente, as regiões mais afetadas pela celulite são: coxas, re

gião glútea e abdome e, excepcionalmente, mamas, tórax e braços. As

regiões mais predispostas ao aumento do microedema nas camadas

de gordura subcutânea são as coxas e as nádegas, por conta da circu

lação vascular baixa, que promove anormalidades na pele (ATAMOROS

et al.
, 2018).

Classificação da celulite com base em critérios clínicos

Classificação da celulite com base em critérios clínicos. Fonte: HEXSEL et al. (2015)

 

Escala de gravidade da celulite

Escala de gravidade da celulite. Fonte: HEXSEL et al. (2015)

 

Nova classificação da celulite baseada nos resultados dos esco- res da escala de gravidade da celulite

Nova classificação da celulite baseada nos resultados dos escores da escala de gravidade da celulite. Fonte HEXSEL et al. (2015)

PREENCHIMENTOS DÉRMICOS PARTICULADOS

Sculptra®
O ácido poli-L-láctico (PLLA), um polímero sintético, biocompatível

e biodegradável, tem sido utilizado com segurança em muitas apli

cações clínicas nas últimas décadas. O Sculptra
® pode ser catego
rizado como um preenchedor estimulador, pois estimula a síntese

e o depósito de tecido fibroso e de colágeno. Na maioria dos estu

dos, o efeito do Sculptra
® na síntese de colágeno foi investigado in
vivo
e a maioria dos dados foram provenientes de relatórios clíni
cos e histológicos. Há apenas um estudo relatando esse efeito
in vi
tro
usando fibroblastos. Aqui, investigamos se o PLLA na forma de nanopartículas
pode fornecer o mesmo efeito na síntese de coláge

no em fibroblastos, assim como o Sculptra
®. Surpreendentemente,
descobrimos que não houve estímulo de colágeno apenas em fibro

blastos; por outro lado, as coculturas de fibroblastos e macrófagos

mostraram estímulo de colágeno por nanopartículas de PLLA (
RAY,
2009, (p.1-9).

O Sculptra
® foi introduzido em 1999 e é distribuído hoje pela Galderma
Laboratories (Dallas, Texas). Como uma das primeiras empresas de en

chimento, a Galderma surgiu com o
slogan de “neocolagênese” em 2009
(LACOMBE, 2009), uma aquisição de um fato histológico que ocorre dia

riamente no reparo de feridas. O Sculptra
® pode ser descrito como um
estimulador de uma reação de corpo estranho e é apenas mais um volu

mizador cujo efeito desaparece quando a última microesfera é absorvi

da pelo organismo (
LEMPERLE; MORHENN; CHARRIER, 2020).
O Sculptra
® contém microesferas lentamente absorvíveis de áci
do poli-L-láctico (150 mg/frasco) para serem suspensas em 5, 10 ou até

mesmo 18 ml de gel de carboximetilcelulose, para evitar a formação de

nódulos no tecido subcutâneo. As microesferas são envolvidas por ma

crófagos (Figura 9.3) que logo se fundem com células gigantes (Figura

9.4) e começam a decair aos nove meses (Figura 9.5) sem sinal histoló

gico de fibras colágenas. Nessa época, por exemplo, fibroblastos em im

plantes de PMMA secretam fibras de colágeno para manter as microes

feras de PMMA no lugar por toda a vida e formar um tecido conjuntivo

permanente, incluindo capilares.

Sculptra® (PLLA) aos três meses. Fonte: acervo do autor.

 

Sculptra® (PLLA) aos seis meses

Sculptra® (PLLA) aos seis meses. Fonte: acervo do autor

Sculptra® (PLLA) aos nove meses

Sculptra® (PLLA) aos nove meses. Fonte: acervo do autor

 

Não foram encontrados dados na literatura científica ou na Inter
net para provar a alegada neocolagênese após injeções de PLLA. Ao con

trário, seu volume é povoado apenas por células gigantes, monócitos e

macrófagos, mas, obviamente, poucos fibroblastos e fibras colágenas

(Figura 9.4).

Radiesse®

Radiesse® é um biocompatível, biodegradável e reabsorvível preen
chedor bioestimulador que pode estimular a produção endógena de

colágeno. É um produto único que proporciona tanto reposição de vo
lume quanto
bioestimulação de colágeno como mecanismo primário

de ação. Após aproximadamente 9 ou até 12 meses, as partículas de

CaHA são degradadas em cálcio e fosfato e são eliminadas pelo siste

ma renal. A correção imediata é gradualmente seguida pela formação

de um novo tecido por meio de neocolagênese, produção de elastina,

angiogênese e proliferação celular. O resultado é uma melhora estéti

ca duradoura por ≥18 meses, com pele firme e elástica e aumento da

espessura da pele (ALMEIDA
et al., 2019).

Radiesse® (Merz Aesthetics, Frankfurt, Alemanha) é o melhor in
jetável biocompatível de todos, devido ao seu componente natural cál

cio-hidroxila-apatita, molécula da qual os ossos e os dentes são feitos

(
YUTSKOVSKAYA; KOGAN, 2017). As suas microesferas são suspensas
em carboximetilcelulose e causam os menores efeitos colaterais de to

dos os materiais particulados injetados, especialmente os granulomas

de corpo estranho (
LEMPERLE; MORHENN; CHARRIER, 2020).
Por outro lado, esse produto estimula uma reação de corpo estra

nho leve (Figura 9.6) e é absorvido após nove meses como pequenos

fragmentos ósseos por hidrolases osteoclásticas, com envolvimento ce

lular forte em uma reação de corpo estranho comum (Figura 9.7) (
LEM
PERLE, 2009
).

Nódulo de Radiesse® (CaHA) aos 3 meses.

Nódulo de Radiesse® (CaHA) aos 3 meses. Fonte: acervo do autor

Radiesse® (CaHA) aos no- ve meses.

Radiesse® (CaHA) aos nove meses. Fonte: acervo do autor.

 

Logo após o Sculptra®, a comunidade Radiesse® adotou o pensamen
to pleno de desejo de Galderma e da comunidade Sculptra
®, além de tam
bém reivindicar a bioestimulação e a neocolagênese como seus princi

pais segredos (ALMEIDA
et al., 2019; YUTSKOVSKAYA; KOGAN, 2017)

HORMÔNIOS NA CELULITE

Considerando que a celulite ocorre em quase 100% das mulheres pós
-púberes, sendo rara sua ocorrência em homens sem deficiência andro

gênica, os hormônios femininos certamente desempenham papel funda

mental em sua etiopatogenia (AFONSO
et al., 2010; HEXSEL et al., 2012;
JESUS
et al., 2020).
Na mulher, os estrogênios são responsáveis por um número maior

de células de gordura armazenadas no tecido adiposo. O tecido conjun

tivo encontra-se de forma radial ou perpendicular à superfície da pele,

levando à formação de compartimentos retangulares que facilitam a ex

trusão das papilas na região derme-hipoderme. Essa região apresenta

também lóbulos maiores e septos paralelos. Já no homem, os septos fi

brosos são menores e arranjados em planos oblíquos com pequenos ló

bulos de gordura (Figura 10.2). Essa diferença explica o fato de apenas

2%, em média, dos homens desenvolverem celulite (CRUZ
et al., 2015;
ARRUDA
et al., 2016; MOURA; FEITOSA, 2019; TORTORA, 2019).

A) Hipoderme do homem; B) hipoderme na mulher sem celulite

A) Hipoderme do homem; B) hipoderme na mulher sem celulite. Fonte: Cunha ALG, Cunha MG, Machado (2015)

 

Nos homens podem ocorrer casos de celulite se estes apresentarem
deficiência androgenética – hipogonadismo, síndrome de Klinefelter, es

tados pós-castração e em pacientes que fizeram uso de terapia com es

trógenos para câncer de próstata. O quadro pode piorar de acordo com

a severidade da deficiência (AFONSO
et al., 2010).
O fato de a celulite afetar de maneira quase exclusiva a mulher, pe

las características anatômicas da hipoderme e, principalmente, pela

influência hormonal tem merecido especial atenção (DAVID; PAULA;

SCHNEIDER, 2011).

O estrogênio, entre os hormônios envolvidos no processo da celuli

te, é considerado o principal fator de desenvolvimento, além de respon

sável pelo agravamento do quadro, agindo ao nível de: 1) substância

fundamental amorfa: leva à alteração do colágeno e das glicosamino

glicanas, tendo como consequência o edema intersticial por conta do

acúmulo de água, que leva à fibroesclerose característica da celulite;

2) adipócitos: aumenta a resposta dos receptores α-antilipolíticos, es

timulando a enzima responsável pela lipogênese (LPL); 3) microcircu

lação: leva à diminuição do tônus venoso e à vasodilatação (CHORILLI

et al.
, 2007).
No mecanismo patológico da celulite, a matriz extracelular – forma

da por fibras de colágeno e elastina, assim como por material intersti

cial amorfo, pode sofrer modificações quando há desequilíbrio no seu

funcionamento, tanto por compressão dos seus elementos quanto por
distensão,
o que levaria a uma resposta com intenção de equilibrar o

sistema. Essa matriz já pode ter sofrido alteração por alguns fatores ge

néticos individuais, como idade, influência dos hormônios, entre outros

(DAVID
et al., 2011).
As alterações hormonais podem levar a disfunções no metabo

lismo que podem criar ou agravar a celulite. A título de exemplifica

ção, no período da menopausa, a baixa produção de estrogênio é res

ponsável pelo aumento da permeabilidade vascular e diminuição do

seu tônus, os quais comprometem a microcirculação, sendo, portan

to, fatores predisponentes importantes ao desenvolvimento de celulite

(LESZKO, 2014).

Outros pontos que contribuem para a ocorrência da celulite são os

efeitos da deficiência de estrogênio no tecido conjuntivo da pele, que in

cluem diminuição da produção e do conteúdo tópico das fibras de colá

geno e elastina tipos I e III (LESZKO, 2014).

Denomina-se estrogênio um grupo de hormônios esteroides com

18 carbonos secretados principalmente pelos ovários, e pelas glându

las adrenais, mas em menor quantidade. O estrogênio engloba três hor

mônios esteroides estruturalmente semelhantes: 17β-estradiol (E2); es

trona (E1) e estriol (E3). Destes, o 17β-estradiol é o principal esteroide

em humanos que possui propriedades estrogênicas (KENDALL; ESRON,

2002).

É clara a relação dos hormônios na mulher com a ocorrência da ce

lulite, quando se considera que o estrogênio é uma causa significativa

no seu surgimento, em que diversos fatores podem explicar sua colabo

ração na etiologia da celulite. A ocorrência desta se dá pela mudança do

tecido gorduroso, dos conectivos e dos vasos. Nos vasos, o estrogênio

pode aumentar ou diminuir a irrigação da região, comprometendo os te

cidos, que se tornam mais fibrosados (MEYER
et al., 2005; MENDONÇA;
RODRIGUES, 2011).

A diminuição de receptores de leptina no hipotálamo pode estar re

lacionada à deficiência do estrogênio, que poderia levar à diminuição da

saciedade, maior ingestão, tendo como consequência ganho de massa

corporal. O estrogênio diminui o peso corporal, reduzindo o nível sérico

de leptina e inibindo a ingestão de alimentos (THOMPSON JÚNIOR; SII

TERI, 1974; SIMPSON
et al., 2002).

Além disso, esse hormônio também determina a quantidade e a dis
posição da gordura corporal. No período menstrual, ocorrem variações

fisiológicas que podem levar ao edema, gerando um desequilíbrio no sis

tema tegumentar. Esse desequilíbrio hormonal pode culminar na ocor

rência da celulite ou agravá-la, principalmente na fase reprodutiva (EL

LERVICK, 2021).

O eixo hipotálamo-adeno-hipófise regula a secreção dos hormônios

gonadais. A hipófise anterior secreta os hormônios folículo-estimulante

(FSH) e luteinizante (LH) em resposta ao hormônio liberador de gona

dotrofinas (GnRH). A função do FSH na mulher é regular o crescimento

folicular e a crescente produção de estradiol pelas células da granulosa.

Já o LH é responsável pelo aumento da captação de colesterol, além de

estimular as células intersticiais da teca dos folículos ovarianos a secre

tarem androstenediona e testosterona (androgênios). O FSH e, princi

palmente, o LH, após a ovulação, atuam nas células luteinizadas da gra

nulosa e da teca do corpo lúteo, levando ao aumento da produção de

estradiol e, em maior quantidade, de progesterona. Os hormônios gona

dais, nessa fase, regulam a secreção de GnRH, FSH e LH por meio de um

mecanismo de retroalimentação negativa. A secreção de FSH é modula

da negativamente por peptídeos produzidos no ovário, como ativina e

inibina (BULUN; ADASHI, 2003).

A retenção de fluidos pelas mulheres tem ligação com o estrogênio. O

corpo delas está programado para armazenar gordura para uso nos pe

ríodos de gestação e amamentação; aparentemente, a atividade hormo

nal, que em determinadas fases da vida feminina pode elevar excessiva

mente os níveis de estrogênio, é um poderoso estimulante na formação

de celulite. Nas regiões mais afetadas, os sistemas linfático e circulató

rio não são capazes de oxigenar e nutrir os tecidos, nem de drenar as to

xinas. Partindo desse princípio, qualquer fator que propicie a retenção

de líquidos agrava os quadros de celulite. O tecido conjuntivo torna-se

disforme, evidenciando esse quadro, por estar mal oxigenado, subnutri

do e sem elasticidade (ZIMMERMANN, 2014).

As alterações causadas por fibroblastos (principalmente o estróge

no) na celulite levam à ocorrência de modificações estruturais nas gli

cosaminoglicanas (GAGs) com hiperpolimerização, levando ao aumento

de seu poder hidrofílico e à pressão osmótica intersticial, o que gera o acúmulo
de líquido entre os adipócitos, tendo como consequência a de

posição de colágeno na matriz intersticial. A falta de uniformidade na

deposição dessas fibras de colágeno promove uma esclerose irregular

de vários tamanhos, tanto nos vasos sanguíneos quanto nos adipócitos.

Com frequência, as mudanças no tamanho dos capilares levam à forma

ção de microaneurismas, por estrangulamento, fazendo com que ocor

ra o extravasamento de plasma para o interstício, juntamente com algu

mas citocinas e linfócitos, reforçando essa desordem (SANT’ANA
et al.,
2007).

A lipólise é um evento controlado por hormônios – glucagon, cateco

laminas, paratormônio, hormônio melanócito estimulante, tirotropina e

adenocorticotropina –, além de adipocinas e citocinas (ZECHNER
et al.,
2009). Já os adipócitos apresentam receptores β-adrenérgicos (agonis

tas) e α2-adrenérgicos (antagonistas) associados à proteína G estimula

tória e inibidora, respectivamente (RIBEIRO, 2010).

Quando se estimula o receptor β-adrenérgico, ocorre a ativação da

enzima de membrana adenilciclase, a qual transforma o ATP em AMPc;

a proteína-quinase inativa é responsável pela lipogênese. Na matriz in

tersticial, o estrogênio estimula a produção dos fibroblastos e altera o

turnover
das macromoléculas, levando à hiperpolimerização do ácido
hialurônico e à perda da elasticidade das fibras colágenas. Na microcir

culação, aumenta-se a permeabilidade e diminui-se o tônus vascular, fa

cilitando o edema e diminuindo o fluxo sanguíneo, o que também esti

mula a lipogênese (KEDE; SABATOVICH, 2009).

No metabolismo do tecido adiposo há interferência dos sistemas

nervosos simpático e parassimpático. A ativação simpática estimula

a lipólise, sendo mediada por receptores β-adrenérgicos, que levam à

ação da enzima lipase hormônio-sensível (LHS). A ativação parassim

pática tem efeitos anabólicos, como a captação de glicose e ácidos gra

xos, estimulada pela insulina (FONSECA-ALANIZ
et al., 2006; BORGES,
2010).

Também podem desempenhar importante papel no desenvolvimen

to da celulite outros hormônios tais como: prolactina; hormônios da ti

reoide; insulina; catecolaminas, incluindo noradrenalina e adrenalina;

além das citocinas (ELLERVICK, 2021)
.

FUNÇÃO E ESTRUTURA DA ADIPONECTINA E SUA INFLUÊNCIA NA CELULITE

A adiponectina é uma glicoproteína anti-inflamatória secretada de for
ma abundante no tecido adiposo quase que de forma exclusiva, com ori

gem nos adipócitos, sobretudo os subcutâneos. Apesar disso, pode ser

secretada também pelo endotélio, com função vasoprotetora. Sua con

centração plasmática atua beneficiando a sensibilidade à insulina, atuan

do como um anti-inflamatório. A concentração plasmática de adiponec

tina em indivíduos obesos ou com síndrome metabólica apresenta-se de

forma reduzida (FRÜHBECK
et al., 2017; KATSIKI, 2017).
A adiponectina tem um domínio exclusivo que se assemelha ao colá

geno, com uma propriedade aderente à nectina, dando origem a seu nome.

Ela apresenta uma sequência primária de 244 aminoácidos, com um do

mínio colágeno amino-terminal e um domínio globular carboxi-terminal,

que permitem formar multímeros compostos por isoformas oligoméricas

(MAEDA
et al., 2020; MARTINEZ-HUENCHULLAN et al., 2020).
Quanto ao peso molecular da adiponectina, este é de 30 kDa. Essa

substância é codificada pelo gene ADIPOQ e está estruturada em 3 éxons

no cromossomo 3q27, que foi identificado como uma região portadora

de gene de susceptibilidade para o diabetes tipo 2 e síndrome metabó

lica. Suas principais formas circulantes são em hexâmetro e multímero.

Os três complexos oligoméricos da adiponectina secretados na circula

ção são de baixo (trímero – LMW), médio (hexâmetro – MMW) e alto

peso molecular (HMW). A depender do sexo, as concentrações plasmá

ticas dessa forma podem sofrer variações, apresentando no homem 5,5

μg/mL e na mulher, 8,7 μg/mL (YADAV
et al., 2013; TORRE-VILLALVAZO
et al.
, 2018; MAEDA et al., 2020).
Alguns autores consideram que a adiponectina se liga a três recep

tores: AdipoR1, AdipoR2 e T-caderina (molécula de adesão celular que

possui uma âncora GPI com domínio transmembranar e intracelular).

Apesar da importância da T-caderina, ainda não são conhecidos em sua

totalidade os detalhes moleculares de interações desse receptor com a

adiponectina, uma vez que recebem menos atenção do que as interações

propostas com AdipoR1 e AdipoR2 (PASCOLUTTI
et al., 2020).

A função da adiponectina é regular a oxidação de ácidos graxos, que
resulta em efeitos positivos na homeostase do metabolismo energético,

além de estimular as citocinas que agem em processos fisiológicos e fi

siopatológicos, inibindo citocinas pró-inflamatórias, como o TNF-α e IL-

6. A adiponectina contém também propriedades de estimular IL-10, que

agem na proteção das células apoptose, induzida por citocinas inflama

tórias (YANAI; YOSHIDA, 2019; DI ZAZZO
et al., 2019).
A realização do mecanismo de indução e inibição de citocinas dá-se

pela sinalização de seus receptores AdipoR1 (este é altamente expresso

no músculo esquelético) e AdipoR2 (que fica mais restrito ao fígado). A

descoberta desses receptores ocorreu a partir de células transfectadas

com um DNA complementar (cDNA) do músculo esquelético humano, com

a utilização de um agente recombinante de forma globular da adiponecti

na (FANG; JUDD, 2018; YANAI; YOSHIDA, 2019; MAEDA
et al., 2020).
Emanuele
et al. (2011) acreditam na hipótese de que a adiponec
tina expressa no tecido adiposo subcutâneo (TAS) pode desempenhar

algum papel na patogênese da celulite. Nesse sentido compararam os

níveis de expressão gênica de adiponectina no TAS retirado da celuli

te na região glútea com os níveis no TAS retirado da mesma região em

mulheres sem celulite. Foram medidos também os níveis plasmáticos

de adiponectina em mulheres com e sem celulite. Participaram do es

tudo 30 mulheres, sendo 15 magras com celulite (IMC < 25 kg/m
2) e
15 sem celulite pareadas por idade e IMC. Foi usada para avaliar a adi

ponectina a reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa

em tempo real (RT-PCR). A expressão do RNA mensageiro (mRNA) da

adiponectina no TAS da região glútea foi significativamente menor nas

áreas com celulite, em comparação com aquelas sem. No entanto, os ní

veis plasmáticos de adiponectina não diferiram entre mulheres com e

sem a manisfetação desse quadro. Pode-se concluir que a expressão de

adiponectina está significativamente reduzida no TAS em áreas afeta

das pela celulite
.

CONCLUSÃO
A celulite é um distúrbio complexo e multifatorial da camada de gor
dura subcutânea e da pele superficial sobrejacente. Já a adiponectina,
um hormônio derivado do adipócito produzido pela gordura subcutâ
nea, apresenta efeitos protetores anti-inflamatórios e vasodilatadores

importantes, podendo desempenhar papel fundamental na patogênese

da celulite.

Acredita-se que a celulite, por ser multifatorial, pode ser causada,

entre outros fatores, pela redução da produção de adiponectina pelo te

cido celular subcutâneo.
 
Alteração estrutural do tecido adiposo devido à celulite.

Alteração estrutural do tecido adiposo devido à celulite. Fonte: acervo do autor.

 

a-formacao-da-celulite

A formação da celulite. Fonte: acervo do autor

 

Comumente recebemos pacientes semelhantes, muitos em acom
panhamento com nutrólogos e em uso de suplementos que auxiliam na

definição corporal, com perda de gordura. Existe uma satisfação geral

quanto ao corpo, coxas e abdome, entretanto, como a região glútea femi

nina possui grande percentual dele sendo gordura, o seu tamanho aca

ba diminuindo drasticamente quando da diminuição do percentual de

gordura (embora o aspecto de celulite possa melhorar), em nível maior

que ao ganho volumétrico do músculo glúteo máximo, médio e demais, e

isso acaba causando um insatisfação ainda maior dessa região, levando

muitos colegas nutrólogos a indicarem às pacientes a reposição volumé

trica perdida com substâncias preenchedoras, visto que essas pacientes

também não teriam a possibilidade de realizar tratamentos com lipoes

cultra, pela presença de pouca gordura para lipoenxertia. No caso aci

ma, foi associado volumetria intramuscular, com um total de 200 ml de

Biossimetric
® 30% em cada lado, em duas etapas, associado ao método
Goldincision
®, melhorando a qualidade geral da pele, reestruturando o
colágeno, e implementando a circulação e o metabolismo local.

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