EFEITOS BIOESTIMULADORES DE INJEÇÕES DE MICROESFERAS EM ESTRUTURAS DE PELE SOBREJACENTES

Conteúdo extraído do livro “Vitória Contra a Celulite” do Dr Roberto Chacur, Ed. AGE, 2023.

Dr. Gottfried Lemperle
Frankfurt, Alemanha

MENSAGEM A LEVAR PARA CASA
1.
A bioestimulação é de fato a reação normal de um corpo estranho a todas as microesferas de enchimento.
2.
A neocolagênese ocorre somente após microesferas Ellansé®, de longa duração, e permanentes, de PMMA.
3.
Os implantes de PMMA são “implantes vivos” que sangram quando cortados.
4.
Sculptra® e Radiesse® são dissolvidos por células gigantes antes que a neocolagênese possa começar.
5. As estruturas alisadas da pele são causadas por edema intradérmico da matriz extracelular que envolve todas as reações de corpo estranho. O edema facilita a migração de macrófagos e a troca de moléculas (MARMUR; PHELPS; GOLDBERG, 2004).

Com a colaboração de colegas médicos experientes, o Dr. Roberto Chacur reúne neste livro uma abordagem em torno do tema que vai desde a gênese da celulite, o método próprio de avaliar e classificar, as doenças associadas e a modulação hormonal até os tratamentos existentes, o que realmente funciona e por qual motivo o método GOLDINCISION é considerado o padrão ouro.

INTRODUÇÃO

Nos últimos 10 anos, quase todos os fabricantes de preenchedores dér
micos e seus médicos injetores afirmaram que os seus produtos estimu

lam a neocolagênese após a injeção (
HADDAD et al., 2022).
O estímulo ao novo colágeno é resultado da ativação de fibroblas

tos. A sabedoria convencional tem sido de que a ativação de fibro

blastos por meio de preenchedores resultou exclusivamente do uso

desses preenchedores categorizados como bioestimuladores, den

tre os quais está o ácido poli-L-láctico, que produzem uma reação

inflamatória cutânea. A maior compreensão de enchimentos não in

flamatórios, como a hidroxiapatita de cálcio, ajudou a esclarecer a

forma como os enchimentos não inflamatórios estimulam a produ

ção de novo colágeno. Estudos recentes provaram a eficácia de no

vos preenchimentos bioestimuladores que estão entrando no mer

cado, por exemplo a policaprolactona, bem como a hipótese de que

os ácidos hialurônicos reticulados atuam como um suporte estru

tural para fibroblastos produtores de colágeno (
HANDLER; GOL
DBERG, 2018
).
Isso soa muito mais agradável do que “nosso produto estimula uma

reação inflamatória de corpo estranho”. No entanto, a evidência histo

lógica para essa afirmação bem como uma segunda alegação, de que

o seu produto também suaviza as estruturas superficiais da pele, são

inexistentes ou não convincentes. “Sabedoria convencional” sem pro

vas não é argumento científico. A busca por evidências de bioestimu

lação e neocolagênese resume-se a alguns fatos. Os preenchedores dér

micos podem ser divididos em duas categorias: volumizadores puros,

como ácidos hialurônicos (AH) secretados por fibroblastos (
WANG et al.,
2007
) (Figura 9.1) e gel de poliacrilamida (PAAG) (BUZZACCARINI et al., 2022),
que são lentamente degradados por hialuronidases e hidrolases

secretadas e novamente absorvidas por macrófagos, muitas vezes sem

muito esforço de outras células (Figura 9.2). Por outro lado, estimulado

res puros, como a maioria dos materiais particulados, iniciam forte rea

ção celular após a injeção, o que frequentemente substitui o volume do

transportador.

Existem dois carreadores para microesferas: atelo-colágeno bovi

no em Artecoll
® e Bellafill®; e carboximetilcelulose (CMC) nos produ
tos brasileiros com PMMA Biossimetric
® e Linnea safe®, assim como em
Sculptra
® (PLLA), Radiesse® (CaHA) e Ellansé® (PCL). Todos são absorvidos nos
primeiros dias após a injeção, deixando as microesferas aglo

meradas no tecido.

Os monócitos e macrófagos invasores e as células gigantes emer

gentes, como primeiras matérias-primas de defesa externa, preen

chem lentamente os espaços entre as microesferas. Nas semanas se

guintes, fibroblastos e capilares completarão o quadro. Clinicamente,

essa troca causa uma leve reentrância na pele das áreas injetadas, mas

ela é nivelada dentro de quatro semanas por células de defesa ou te

cido conjuntivo encravado. As fibras de colágeno aparecem primeira

mente após um ano, quando a maioria dos preenchimentos temporá

rios foram absorvidos.

Ácido hialurônico (Restylane) aos três meses.

Ácido hialurônico (Restylane) aos três meses. Fonte: acervo do autor.

 

Aquamid (PAAG).

Aquamid (PAAG). Fonte: acervo do autor


As reações histológicas às injeções de microesferas são extrema

mente variadas, de acordo com a sua estrutura química: vão desde um

leve envolvimento celular em torno de PMMA (Biossimetric
®) e esferas
de cálcio em Radiesse
® (ALMEIDA et al., 2019; YUTSKOVSKAYA; KOGAN,
2017
) até uma reação granulomatosa expressiva em torno das microes
feras de policaprolactona em Ellansé
® (KIM, 2020).
Como muitos desejos e desinformações são descritos e repetidos na

literatura, as reações histológicas aos quatro estimuladores injetáveis

individuais são descritas e discutidas aqui. Esses fatos estão causando

um possível efeito dos injetáveis nas estruturas sobrejacentes da pele.

PREENCHIMENTOS DÉRMICOS PARTICULADOS

Sculptra®
O ácido poli-L-láctico (PLLA), um polímero sintético, biocompatível

e biodegradável, tem sido utilizado com segurança em muitas apli

cações clínicas nas últimas décadas. O Sculptra
® pode ser catego
rizado como um preenchedor estimulador, pois estimula a síntese

e o depósito de tecido fibroso e de colágeno. Na maioria dos estu

dos, o efeito do Sculptra
® na síntese de colágeno foi investigado in
vivo
e a maioria dos dados foram provenientes de relatórios clíni
cos e histológicos. Há apenas um estudo relatando esse efeito
in vi
tro
usando fibroblastos. Aqui, investigamos se o PLLA na forma de nanopartículas
pode fornecer o mesmo efeito na síntese de coláge

no em fibroblastos, assim como o Sculptra
®. Surpreendentemente,
descobrimos que não houve estímulo de colágeno apenas em fibro

blastos; por outro lado, as coculturas de fibroblastos e macrófagos

mostraram estímulo de colágeno por nanopartículas de PLLA (
RAY,
2009, (p.1-9).

O Sculptra
® foi introduzido em 1999 e é distribuído hoje pela Galderma
Laboratories (Dallas, Texas). Como uma das primeiras empresas de en

chimento, a Galderma surgiu com o
slogan de “neocolagênese” em 2009
(LACOMBE, 2009), uma aquisição de um fato histológico que ocorre dia

riamente no reparo de feridas. O Sculptra
® pode ser descrito como um
estimulador de uma reação de corpo estranho e é apenas mais um volu

mizador cujo efeito desaparece quando a última microesfera é absorvi

da pelo organismo (
LEMPERLE; MORHENN; CHARRIER, 2020).
O Sculptra
® contém microesferas lentamente absorvíveis de áci
do poli-L-láctico (150 mg/frasco) para serem suspensas em 5, 10 ou até

mesmo 18 ml de gel de carboximetilcelulose, para evitar a formação de

nódulos no tecido subcutâneo. As microesferas são envolvidas por ma

crófagos (Figura 9.3) que logo se fundem com células gigantes (Figura

9.4) e começam a decair aos nove meses (Figura 9.5) sem sinal histoló

gico de fibras colágenas. Nessa época, por exemplo, fibroblastos em im

plantes de PMMA secretam fibras de colágeno para manter as microes

feras de PMMA no lugar por toda a vida e formar um tecido conjuntivo

permanente, incluindo capilares.

Sculptra® (PLLA) aos três meses. Fonte: acervo do autor.

 

Sculptra® (PLLA) aos seis meses

Sculptra® (PLLA) aos seis meses. Fonte: acervo do autor

Sculptra® (PLLA) aos nove meses

Sculptra® (PLLA) aos nove meses. Fonte: acervo do autor

 

Não foram encontrados dados na literatura científica ou na Inter
net para provar a alegada neocolagênese após injeções de PLLA. Ao con

trário, seu volume é povoado apenas por células gigantes, monócitos e

macrófagos, mas, obviamente, poucos fibroblastos e fibras colágenas

(Figura 9.4).

Radiesse®

Radiesse® é um biocompatível, biodegradável e reabsorvível preen
chedor bioestimulador que pode estimular a produção endógena de

colágeno. É um produto único que proporciona tanto reposição de vo
lume quanto
bioestimulação de colágeno como mecanismo primário

de ação. Após aproximadamente 9 ou até 12 meses, as partículas de

CaHA são degradadas em cálcio e fosfato e são eliminadas pelo siste

ma renal. A correção imediata é gradualmente seguida pela formação

de um novo tecido por meio de neocolagênese, produção de elastina,

angiogênese e proliferação celular. O resultado é uma melhora estéti

ca duradoura por ≥18 meses, com pele firme e elástica e aumento da

espessura da pele (ALMEIDA
et al., 2019).

Radiesse® (Merz Aesthetics, Frankfurt, Alemanha) é o melhor in
jetável biocompatível de todos, devido ao seu componente natural cál

cio-hidroxila-apatita, molécula da qual os ossos e os dentes são feitos

(
YUTSKOVSKAYA; KOGAN, 2017). As suas microesferas são suspensas
em carboximetilcelulose e causam os menores efeitos colaterais de to

dos os materiais particulados injetados, especialmente os granulomas

de corpo estranho (
LEMPERLE; MORHENN; CHARRIER, 2020).
Por outro lado, esse produto estimula uma reação de corpo estra

nho leve (Figura 9.6) e é absorvido após nove meses como pequenos

fragmentos ósseos por hidrolases osteoclásticas, com envolvimento ce

lular forte em uma reação de corpo estranho comum (Figura 9.7) (
LEM
PERLE, 2009
).

Nódulo de Radiesse® (CaHA) aos 3 meses.

Nódulo de Radiesse® (CaHA) aos 3 meses. Fonte: acervo do autor

Radiesse® (CaHA) aos no- ve meses.

Radiesse® (CaHA) aos nove meses. Fonte: acervo do autor.

 

Logo após o Sculptra®, a comunidade Radiesse® adotou o pensamen
to pleno de desejo de Galderma e da comunidade Sculptra
®, além de tam
bém reivindicar a bioestimulação e a neocolagênese como seus princi

pais segredos (ALMEIDA
et al., 2019; YUTSKOVSKAYA; KOGAN, 2017)

Ellansé®

O estimulador de colágeno Ellansé® é composto por microesferas
de PCL bioabsorvíveis suspensas em um carreador de gel aquoso de

carboximetilcelulose. Além do efeito de preenchimento dos tecidos

moles, as microesferas estimulam a produção de novo colágeno, re

sultando em restauração de volume, remodelação e melhoria da qua

lidade da pele. Estão disponíveis três versões (Ellansé-S
®,-M®,-L®),
proporcionando a duração do efeito de pelo menos 18 meses e até 3

anos, pois o tempo de degradação das microesferas de PCL depende

do comprimento inicial da cadeia polimérica. Esses preenchedores,

também conhecidos como estimuladores de colágeno, são caracteri

zados por sua longa duração de ação e por suas propriedades bioes

timuladoras: o aumento da produção de colágeno que segue a sua im

plantação prolonga sua duração de ação (
CHRISTEN; VERCERI, 2020).
Ellansé
® (Sinclair Pharma, Londres) é o preenchedor dérmico mais jo
vem do mercado, tendo sido introduzido em 2009. Desde sua introdu
ção,
ele é reivindicado como um “estimulador de colágeno”. O Ellansé
®
é composto por 4 microesferas polimerizadas de ácido policaprolac

tônico (PCL), sendo 30% suspensas em 70% de carboximetilcelulose

(CMC). De acordo com as suas diferentes polimerizações, os poliéste

res são lentamente degradados ao longo dos anos por hidrólise das li

gações éster.

A hipótese de neocolagênese (
CHRISTEN; VERCERI, 2020) foi confir
mada por Kim em 2020; as imagens histológicas em seus dois artigos an

teriores, de 2015 (
KIM; VAN ABEL, 2015) e 2019 (KIM, 2019), não foram
convincentes. Após 1.000 injeções intradérmicas de LCP por intermédio

de um injetor automatizado na pele temporal de 13 mulheres, ele encon

trou um aumento de 26,7% das fibras colágenas após quatro anos. Ele

descreveu ainda uma melhora da textura da pele em 30% aos seis meses

e o espessamento da derme temporal em 11,1% – de 2,15 mm para 2,7

mm (KIM, 2019).

Suas imagens histológicas mostram grande número de células gi

gantes de corpo estranho logo após a injeção, que estão tentando engo

lir cada microesfera de PCL (Figura 9.8), o que é visto de forma seme

lhante apenas em granulomas de enchimento (
LEMPERLE et al., 2009).
Apenas o Sculptra
® mostra uma taxa de 100% de células gigantes em
sua reação inicial de corpo estranho (Figura 9.4). As células gigantes

são o sinal típico de um granuloma de corpo estranho quando os ma

crófagos sozinhos não são capazes de destruir o material (
LEMPERLE
et al
., 2009).

as-microesferas-de-ellanse

As microesferas de Ellansé® (PLC) aos 13 meses são englobadas por células gigantes. Fonte: acervo do autor

As células gigantes são geralmente formadas pela fusão de macró
fagos frustrados que sozinhos não conseguem degradar as microesferas

de PCL. Esse forte estímulo do PCL sugere uma substância tóxica dentro

do próprio PCL (possivelmente seu catalisador). Em sua figura 3A e 3B

após 1 e 4 anos, Kim descreve novas “fibras de colágeno extremamente

finas” não reconhecíveis (Figura 9.8), que não podem ser responsáveis

pelo aumento de volume após injeções de LCP. O verdadeiro aumento de

volume ocorre essencialmente devido à quantidade significativa de cé

lulas gigantes e em função da matriz extracelular edemaciada, repleta

de monócitos e macrófagos (Figura 9.9).

Aos dois anos, todas as microesferas ainda estão cercadas por

células gigantes e embutidas na matriz extracelular fibrinosa sem fi

bras colágenas óbvias (Figura 9.9). Aos três anos, não há significati

va mudança histológica, exceto uma aglomeração das microesferas

(Figura 9.10). O pequeno tamanho das células gigantes e a sua au

sência no canto inferior direito sugere que essas microesferas estão

localizadas no centro do implante, onde ainda não foram alcançadas

pelas células gigantes. Isso pode sugerir confusão com uma biópsia

anterior.

Finalmente, aos quatro anos de idade, vemos feixes de colágeno cla

ramente definidos aparecendo pela primeira vez na literatura de preen

chimento dérmico para outro preenchimento o PMMA (KIM, 2020) (Fi

gura 9.11). É surpreendente que essas fibras de colágeno maduras não

sejam encontradas após três anos (Figura 9.10)
.

 

ellanse-microscopia-2-anos

Ellansé® (PLC) aos dois anos. Fonte: acervo do autor

ellanse-microscopia

Ellansé® (PLC) aos três anos. Fonte: acervo do autor

ellanse-microscopia-4-anos

Ellansé® (PLC) aos quatro anos. Fonte: acervo do autor

O aumento do espessamento dérmico após a injeção intradérmica
de PCL é demonstrado na figura 1B de Kim (Figura 9.12). À primeira vis

ta, trata-se de um edema dérmico típico causado por microesferas de

PCL tóxicas engolfadas por células gigantes de defesa (ver setas). Esse

inchaço habitual é a explicação para o efeito de alisamento das estrutu

ras superficiais da pele sobrejacente.

PMMA – Microesferas

As microesferas de PMMA injetáveis e não absorvíveis de 40 μm de
tamanho foram desenvolvidas no início de 1980, como resposta às
injeções de
colágeno bovino de ação curta Zyderm
® e Zyplast® (LEM
PERLE
et al., 1991). Eles foram introduzidos no Brasil em 1996 e fa
bricados por muitos anos sob o nome de Metacrill
® (SERRA; GON
ÇALVES; RAMOS-E-SILVA, 2014; CHACUR, 2019
). Hoje, dois injetáveis
semelhantes compostos de PMMA são aprovados pela Agência Nacio

nal de Vigilância Sanitária (ANVISA) (
SOUZA et al., 2018):: Biossime
tric
® (MTC Medical Comércio e Indústria, de Anápolis, Goiás) e Lin
nea Safe
® (Laboratório Lebon, de Porto Alegre).

Microesferas de Ellansé® (PLC)

Microesferas de Ellansé® (PLC). Fonte: acervo do autor

injeções de colágeno bovino de ação curta Zyderm® e Zyplast® (LEM
PERLE
et al., 1991). Eles foram introduzidos no Brasil em 1996 e fa
bricados por muitos anos sob o nome de Metacrill
® (SERRA; GON
ÇALVES; RAMOS-E-SILVA, 2014; CHACUR, 2019
). Hoje, dois injetáveis
semelhantes compostos de PMMA são aprovados pela Agência Nacio

nal de Vigilância Sanitária (ANVISA) (
SOUZA et al., 2018):: Biossime
tric
® (MTC Medical Comércio e Indústria, de Anápolis, Goiás) e Lin
nea Safe
® (Laboratório Lebon, de Porto Alegre).
As microesferas de PMMA da Biossimetric
® são de tamanho uniforme,
limpas de pequenas partículas e as suas superfícies ainda proporcionam

rugosidade suficiente para a fixação de macrófagos (
LEMPERLE, 2022).
Ambos diferem de Artecoll-4, da China, e de Bellafill, dos EUA, em fun

ção de seu transportador, que é carboximetilcelulose (CMC), comercial

mente disponível em Biossimetric
® ou hidroxietilcelulose (em Linnea
Safe) – em vez de colágeno bovino, caro, de Artecoll e Bellafill (
RONAN
et al.,
2019).
Os três carreadores são absorvidos nos primeiros dias e deixam as

microesferas aglomeradas e fixadas no local da injeção. Em uma sema

na, os macrófagos invadem a borda externa das microesferas (
LEMPER
LE,
2022) e, em 3 meses, todas as microesferas são encapsuladas com
dois ou três macrófagos. Já os fibroblastos avançam para a matriz extra

celular com vistas a produzir capilares para a sua nutrição e renovação

(Figura 9.13).

 

Microesferas de PMMA aos três meses:

Microesferas de PMMA aos três meses. Fonte: acervo do autor

A partir de nove meses, a maioria dos macrófagos inúteis sai de
cena ou é fagocitada após a apoptose. Dessa forma, fibroblastos, fi

bras colágenas e capilares estão preenchendo os interespaços (Figura

9.14). Aos 10 anos, todas as microesferas estão entrelaçadas com fibro

blastos e fibras colágenas largas (Figura 9.15) e as arteríolas e vênu

las converteram o PMMA injetado em um “implante vivo”, que sangra

quando cortado.

As microesferas de PMMA aos três anos

As microesferas de PMMA
aos três anos. Fonte: acervo do autor


Histologicamente, não há diferença detectável entre os diferentes

injetáveis de PMMA, visto que as quatro empresas eliminaram peque

nas partículas de PMMA abaixo de 20 μm, que eram fagocitadas e trans

portadas para os linfonodos, pulmão ou fígado (
LEMPERLE; MORHENN;
CHARRIER, 2020
). Essas pequenas partículas podem ter sido a suposta causa
da formação tardia do granuloma de corpo estranho, tendo em

vista que a sua estrutura química permaneceu na memória dos macró

fagos. Uma infecção bacteriana sistêmica do paciente foi, muitas vezes,

o gatilho para uma reação granulomatosa em todos os locais anterior

mente afetados (
LEMPERLE et al., 2009).

Microesferas de PMMA dez anos.

Microesferas de PMMA dez anos após a injeção abaixo do sulco nasolabial. Fonte: acervo do autor.

DISCUSSÃO

Mecanismos de defesa contra materiais estranhos injetados
Se as partículas são injetadas no corpo humano, as células danificadas

ao redor liberam citocinas no tecido, o que faz com que os monócitos

próximos se convertam em macrófagos. Essa primeira fileira de
guerrei
ros
tenta fagocitar as partículas intrusas ou torná-las inofensivas ao en
capsulá-las com seus corpos celulares (Figura 9.12). Os macrófagos têm

um tamanho que varia de 10 μm a um máximo de 60 μm, ou seja, eles

não podem marchar com uma microesfera
abraçada de 40 μm de diâme
tro. Assim, eles permanecem ligados ao inimigo como gêmeos siameses,

temporariamente com microesferas absorvíveis em Sculptra
®, Radies
se
® e Ellansé® e, permanentemente, com microesferas de PMMA em Ar
tecoll, Bellafill, Biossimetric
® ou Linnea Safe®.

Como todas as células precisam de oxigênio, os macrófagos fixos en
viam mais citocinas e atraem mais macrófagos e fibroblastos, que cons

troem um tecido conjuntivo regular com capilares e pequenos vasos,

isto é, formam um
implante vivo, que sangra ao ser cortado. No entanto,
uma reação de corpo estranho também promove o aumento da circu

lação sanguínea e do metabolismo local, com comprovado aumento de

temperatura pela termografia corporal.

A neocolagênese ocorre no corpo humano como um componente na

tural do reparo de feridas, como resultado de uma resposta inflamató

ria à lesão. Uma segunda tarefa dos fibroblastos é o envolvimento e a fi

xação de corpos estranhos permanentes, como implantes mamários ou

microesferas inertes. Ao contrário do neocolágeno (Figura 9.7), os fei

xes de colágeno maduro apenas podem ser detectados e comprovados

em imagens histológicas de Ellansé
® e PMMA nos primeiros nove meses
após a injeção (Figuras 9.11 e 9.14).

Esse é um período em que metade das microesferas de PLLA, CaHA

ou PCL injetadas já foi absorvida. Infelizmente, existem apenas algumas

imagens histológicas desses outros três injetáveis dérmicos. A coloração

especial com
picrosirius red ou tricrômio de Masson poderia fornecer
evidências de fibras de colágeno reivindicadas e possíveis
.

Perda de elasticidade da pele e “celulite”
Há cerca de 10 anos, alguns injetores de diferentes preenchedores dér

micos observaram que as estruturas da pele sobrejacentes melhoraram

após a injeção de certos produtos. Um estudo de Goldberg
et al. (2013)
sobre a resposta do tecido humano ao Sculptra
® “abriu uma nova classe
de estimuladores de colágeno” (
CHRISTEN, 2022), que parafraseia em
palavras mais atraentes uma simples reação de corpo estranho.

Cavallini
et al. (2019) avaliaram a qualidade da pele seis meses após
a injeção intradérmica de um HA viscoso, que foi recentemente desen

volvido (VYC-12), em 40 mulheres com uma nova “Análise Digital da Su

perfície Cutânea” (DACS), e foi encontrada uma textura que melhora

30%. Esse efeito após injeções intradérmicas não é incomum e é absolu

tamente compreensível.

Kim (2019) mediu a espessura da derme um ano após a injeção in
tradérmica e encontrou microesferas de PCL cercadas por células gigan

tes e alguns fibroblastos dispersos. O edema circundante com fibras de

colágeno claramente afastadas foi a causa desse aumento de espessura

(Figura 9.12).

Bravo
et al. (2022) injetaram ácido hialurônico (AH) e Radiesse®
em 15 mulheres em um plano subdérmico e mediram um aumento de

11,1% na espessura da derme após quatro meses. A derme facial tem

espessura média de 1 mm; 11,1% de aumento são 0,11 mm, a espes

sura da epiderme. A empolgação com essa bioestimulação dérmica foi

igualmente alta.

Como é geralmente o caso em se tratando de cosméticos, há poucos

fatos, mas muito pensamento positivo envolvido. Não há dúvida de que

a elasticidade da pele diminui com a idade e que o extremo afinamento

e enrugamento que ocorrem no rosto de algumas mulheres é provável

que se deva principalmente a uma frouxidão tardia de causa genética.

A neocolagênese dérmica é frequentemente vista como a principal

razão da melhora visível da pele após diferentes tratamentos estéticos

não invasivos e minimamente invasivos. Contudo, a dinâmica muito len

ta da remodelação do colágeno maduro na matriz extracelular da derme,

com tempo de meia-vida de 15 anos, torna cada aumento observável da

produção de colágeno insuficiente para substituir uma parte significati

va da matriz durante o curto período em que se afirma que a melhora da

pele ocorre (
KRUGLIKOV, 2013).
Além disso, a mudança do colágeno tipo 3 para o colágeno tipo 1, que

é mais espesso e resistente, ocorre somente após nove meses.

Portanto, o efeito observado deve ser atribuído ao edema natural

que acompanha todas as reações celulares temporárias e permanentes.

As nádegas desempenham papel importante na atratividade física

e sempre foram consideradas como critério de beleza feminina ligado à

fecundidade e ao estado de saúde.

Com o envelhecimento, a pele perde a sua elasticidade. A perda de

gordura subcutânea glútea e a frouxidão dos septos interlobulares le

vam à diminuição do volume da área e à ptose glútea (
HEXSEL; MAZZU
CO, 2000; KAMINER
et al., 2019; COHEN et al., 2020; YOUNG VL, DI BER
NARDO, 2021
).

 

O sistema de suspensão glútea, um tecido conjuntivo denso ligamen
tar, torna-se menos firme, levando à flacidez das nádegas. Esse processo

acarreta um comprometimento da qualidade da pele, com o desenvolvi

mento de estrias e reentrâncias derivadas da celulite que afetam parti

cularmente as nádegas e as coxas de 80% das mulheres. Essa condição

multifatorial é uma preocupação real e gera como consequência o au

mento do interesse pela estética dessa região (
SERRA; GONÇALVES; RA
MOS-E-SILVA
, 2014; CHACUR, 2019; HEXSEL; MAZZUCO, 2000; DAVIS;
BOEN; FABI, 2019
).
Os eventos adversos das subcisões podem ser:

a)
Formação de nódulos se o PMMA ou preenchimento temporal
não se espalhar no tecido circundante – o que pode ser evitado

pela diluição adicional do PMMA a 30%.

b)
Formação de seroma se os pequenos espaços de subcisão se co
municarem e permitirem o acúmulo de líquidos.

c)
Hemossiderina e hiperpigmentação da pele acima dos nódulos e
seromas (
HEXSEL; MAZZUCO, 2000; DAVIS; BOEN; FABI, 2019).
Curiosamente, a formação de granulomas ocorreu somente após

injeções intradérmicas ou de preenchimento subdérmico alto no pla

no dermo-subdérmico, e não após injeções mais profundas na gordu

ra subcutânea ou epiperiosteal nos ossos, nem intramuscular após

aumento muscular ou profundo das nádegas. A explicação para esse

fenômeno é o fato de a derme ser o órgão mais sensível e imunolo

gicamente ativo. Esse fato é importante quando se trata de subcisão

(
HEXSEL; MAZZUCO, 2000) de bandas fibrosas sob covinhas na pele
(celulite) e preenchimento imediato com materiais particulados (
DA
VIS; BOEN; FABI, 2019
).
Os injetáveis particulados podem melhorar as estruturas da pele.

Todo injetável é inicialmente um corpo estranho que perturba a integri

dade do tecido. Os fibroblastos circundantes ou as células danificadas li

beram citocinas de medo, que causam edema e atraem macrófagos para

ajudá-los a se defenderem contra os corpos estranhos.

Se olharmos para o tecido conjuntivo frouxo subcutâneo, os espaços

entre as fibras de colágeno individuais variam de cerca de 5 μm a 10 μm

de largura, que é a largura de um fibroblasto. Por outro lado, os macrófa
gos
têm um diâmetro de 10 μm até um máximo de 20 μm e praticamen

te precisam deslizar por esses pequenos espaços em direção aos corpos

estranhos intrusos.

Para facilitar esse caminho para eles, as citocinas ao redor de um

corpo estranho causam um edema local que alarga os espaços entre as

fibras de colágeno. Isso é semelhante à situação de toxinas injetadas ou

veneno de abelhas ou cobras, em que um forte edema por um lado dilui

o veneno, mas, ao mesmo tempo, facilita a migração de macrófagos para

fagocitar e limpar possíveis detritos celulares.

O primeiro passo dos mecanismos de defesa do organismo é a for

mação de edema, para permitir que as células de defesa tenham um ca

minho rápido até o local do incidente. No caso de injetáveis, os que cau

sam problemas não são bactérias, toxinas ou vírus, mas microesferas de

40 μm de diâmetro. Em função do seu tamanho, eles não podem ser fa

gocitados e transportados, mas serão envoltos por macrófagos e células

gigantes até serem absorvidos, ou fixados como PMMA no tecido pelo

resto da vida do paciente.

Como a vida útil dos macrófagos atinge apenas algumas semanas ou

meses, eles devem ser substituídos repetidamente. Para essa troca de

células invasoras e para o transporte de restos celulares, o corpo man

tém um edema crônico pronto. No caso de injeções subdérmicas de mi

croesferas absorvíveis ou não absorvíveis, esse edema permanece até o

final da absorção ou até o fim da vida do paciente e atinge as estruturas

da derme, suavizando as rugas superficiais (KIM, 2019).

O colágeno está contido em muitas pomadas, porém, até hoje, ne

nhuma molécula penetrou na pele por esse meio. O mesmo ocorre com

os ácidos hialurônicos (AH): nosso corpo contém cerca de 15 g de AH,

principalmente na pele, mas milhões de mulheres utilizam-no em cre

mes ou soros, com a esperança de que ajude a sua pele a absorver água,

inclusive comprimindo-a. Uma exceção é a pele inflamada, cujas células

epidérmicas inchadas cedem e deixam passar por seus espaços interce

lulares certos antibióticos, cortisona e anti-inflamatórios não esteroides

(AINEs). Nossa barreira cutânea intacta permite que apenas cerca de

20 moléculas complicadas – como DMSO, estrogênios ou nicotina – per

meiem, mas elas desaparecem no primeiro vaso linfático que atingem (MORTAZAVI; MOGHIMI, 2022).

 
 
CONCLUSÕES

Todos os injetáveis particulados estimulam uma reação de corpo estra
nho: Radiesse
® – que é o com menos degradação predominante por hi
drolases osteoclásticas; Sculptra
® – uma resposta média; e Ellansé® – o
mais forte, com todas as microesferas sendo engolidas por células gigan

tes de corpo estranho (KIM, 2019).

Os três fabricantes e todos os usuários afirmam que o seu produto

é um estimulador de colágeno, mas apenas injetáveis permanentes de

PMMA, como Biossimetric
®, Linnea Safe®, Artecoll e Bellafill, mostra
ram histologicamente, por 40 anos, que a reação inicial de corpo estra

nho se acalma em seis meses e dá lugar a um encapsulamento estável de

todas as microesferas (
LEMPERLE et al., 1991; LEMPERLE, 2022).
Todos os fabricantes de preenchedores temporários e seus usuários

afirmam que seu produto é um estimulador de colágeno, mas apenas o

Ellansé
® estimula os fibroblastos a secretarem fibras de colágeno ma
duras em seu período de degradação de quatro anos. Em contrapartida,

microesferas permanentes de PMMA em Biosimetric, Linnea Safe, Ar

tecoll e Bellafill mostraram histologicamente por 40 anos que a reação

inicial de corpo estranho se acalma em seis meses e dá lugar aos macró

fagos, para encapsulamento e fixação estáveis com fibras colágenas ma

duras (
LEMPERLE et al., 1991; LEMPERLE, 2022). Portanto, as microes
feras de PMMA são os únicos estimuladores de colágeno reais (Figuras

9.14 e 9.15), mesmo que os seus fabricantes e usuários nunca tenham

reivindicado esse fato.

A hipótese de neocolagênese, descrita e apresentada cem vezes

após as injeções de Sculptra
® e Radiesse®, é baseada na suposta “sabe
doria convencional” e no “pensamento positivo”, para acalmar médicos

e pacientes. Essa era uma hipótese desde o início, porque soava muito

melhor do que a verdade científica de uma reação de corpo estranho.

Finalmente, Kim (2020) apresentou a prova de que as microesferas de

PLC também estimulam a síntese de colágeno após quatro anos, quan

do a degradação das microesferas de PLC por células gigantes está

chegando ao fim.

Assim como ocorreu a mudança de reação de corpo estranho para

bioestimulação, a literatura de preenchimento mais recente tem que evi
tar a
expressão
granuloma de corpo estranho e substituí-la por resposta
inflamatória de início tardio
(LOIR). De mesma forma, alguns periódicos
proíbem a palavra
complicação e pedem para substituí-la por eventos ad
versos
(EAs). Infelizmente, também em artigos científicos, somos obriga
dos a apagar a realidade e descartar muitos fatos como velhas
fake news

 
 
Precisa de ajuda?